Tínhamos dito que o próximo texto publicado aqui, seria sobre fake news. Já se tinha uma ideia, de se fazer algo divertido, com uma abordagem leve, que fosse uma conversa com avós, pais, mães, tiozões, dando dicas fáceis para se evitar ou se detectar as fake news.
Mas não dá.
Não dá pra ser divertido, não dá pra escrever leve vendo os caminhos que o país segue trilhando em meio à pandemia.
As fake news ficam pra depois, possivelmente pra mais perto da eleição, hoje queremos falar sobre a polarização da moda: abrir ou não as escolas.
Sem mencionar as polarizações históricas no país, que ao contrário do que alguns possam pensar, surgiu séculos antes de junho de 2013, vamos nos ater apenas àquelas que vieram durante o contexto pandêmico, surgido há cinco meses no país.
Já houve o embate entre usar ou não a máscara. É “embate” mesmo e não “debate”. Em uma discussão polarizada, pouco importam os argumentos, sejam eles científicos ou fruto, inclusive, de fake news.
Mas não vamos falar delas de novo.
Já houve o lado da cloroquina e o da tubaína; o do vem pra rua e do fique em casa; o da gripezinha e o do fim do mundo.
Talvez o fruto de todas as polarizações durante este período tenha sido colocar a saúde em oposição à economia, como se uma não dependesse intrinsicamente da outra.
Agora, com média próxima a mil mortes por dia desde junho e diversos decretos autorizando a reabertura das áreas não essenciais, a discussão central se voltou para as escolas, para a educação e para as crianças.
Um lado argumenta que as aulas têm que voltar de forma presencial.
Crianças são muito inquietas em casa, dizem os pais impacientes; Jovens podem pegar o vírus sem problemas, dizem os negacionistas; As crianças vão respeitar o distanciamento, diz quem não lembra da infância.
O outro lado não inovou em seus argumentos e usa a mesma ideia que foi apresentada desde o primeiro caso de contaminação por coronavírus no mundo: as pessoas vão se infectar e algumas vão morrer.
Daquele confronto entre saúde e economia, originou-se agora, a oposição entre saúde ou educação.
A frase “o ano estará perdido” tem pipocado na mídia tradicional e nas redes sociais por uma fração da comunidade escolar e parte dos pais que defende a retomada das aulas presenciais.
Será mesmo que o ano estará perdido?
O conteúdo escolar estará lá, pronto para ser ensinado a qualquer momento, mas e os aprendizados que esta situação pandêmica pode proporcionar às crianças no dia a dia?
Aprendizados como civilidade, solidariedade, cidadania, empatia e diversos outros estão certamente ocorrendo nas mais diferentes casas, das mais diversas crianças em todo o país.
E olhando com otimismo, isso pode valer muito no futuro não apenas individual destas crianças, como da sociedade como um todo.
Não dizemos, porém, que são dispensáveis os aprendizados do currículo escolar: bem longe disso.
Mas dizemos sim, que a pandemia está ensinando importantes lições a todos, inclusive a crianças e jovens sem precisarem estar aglomerados em salas de aula para isso.
Mesmo sabendo que a maior parte das escolas públicas ou privadas adotaram medidas de ensino a distância, podem se considerar os casos mais graves, onde nem o poder público ou os empresários fizeram algo até agora para se adaptar a esta nova realidade, e se imaginar a situação daquelas crianças que não tiveram acesso algum a qualquer tipo de conteúdo do currículo escolar neste ano.
Até elas, e talvez principalmente elas, estão aprendendo diariamente. Se não nos livros, na prática. Se não nas salas de aula enfileiradas, nas salas de casa: por vezes, abarrotadas.
Ninguém precisa se expor aos riscos para ter contato e aprender o currículo escolar. Os gestores das instituições de ensino públicas ou privadas devem encontrar as formas adequadas para levar este conhecimento às crianças ou jovens, considerando a realidade vivida por cada um deles.
Não é uma tarefa simples, mas necessária.
Por aqui, desejamos que a saúde pare de ser colocada nos debates em oposição à economia, à educação ou a qualquer outra área.
Que de mais esta polarização, se tire o ensinamento de que a única lição de vida que as crianças não merecem, é o de ter que se despedir de algum ente querido.