Em homenagem ao Dia Internacional do Trabalhador, compartilhamos um dos discursos mais célebres da história do cinema mundial e, embora feito há mais de 80 anos por Chaplin em seu filme “O Grande Ditador”, conta com amplo significado em tempos modernos, em tempos pandêmicos.
Com a palavra, um dos mestres que desejava uma sociedade sem mestres:
“Sinto muito, mas não pretendo ser imperador. Não é esse o meu negócio. Não quero governar ou conquistar ninguém. Gostaria de ajudar a todos que fosse possível: judeus, pessoas gentis, negros, brancos. Todos nós desejamos ajudar uns aos outros, seres humanos são assim. Queremos viver pela felicidade do próximo e não pelo seu infortúnio.
Não desejamos odiar ou desprezar, neste mundo há espaço para todos. A Terra é rica e pode prover as necessidades de todos. O caminho da vida pode ser livre e lindo, porém, perdemos o rumo.
A ganância envenenou as nossas almas, levantou muralhas de ódio, fez-nos chegar à miséria e ao derramamento de sangue. Desenvolvemos velocidade, mas nos isolamos uns dos outros. A maquinaria que nos poderia dar abundância deixou-nos na penúria. Os nossos conhecimentos nos tornaram céticos e cruéis. Pensamos de mais e sentimos de menos.
Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de compaixão e gentileza. Sem estas qualidades, a vida será violenta e tudo será perdido. A aviação e o rádio nos aproximaram. A própria natureza dessas coisas apela à bondade. Apela à fraternidade universal para sermos todos um.
Neste mesmo instante, a minha voz chega a milhões em todo o mundo, milhões de homens, mulheres e crianças desesperadas, vítimas de um sistema que põe homens a torturar e encarcera inocentes.
Aos que me ouvem, eu digo: não se desesperem. A nossa desgraça é simplesmente o último suspiro da ganância. A amargura de homens que temem o progresso humano. O ódio dos homens desaparecerá e os ditadores sucumbirão.
E o poder que arrebataram do povo irá retornar ao povo. Mesmo que os homens morram, a liberdade nunca perecerá.
Soldados: não se entreguem a esses desalmados. Homens que te desprezam, te escravizam, controlam as suas vidas. Que te dizem o que fazer, o que pensar, o que sentir. Que te condicionam como tratam um gado e se servem de ti como carne para canhão.
Não se entreguem a esses desumanos, homens-máquina, com mentes de aço e corações de pedra. Você não é uma máquina, você não é gado, pessoa é o que és. E leva o amor da humanidade em tua alma. Não odieis! Só odeiam os que nunca foram amados, os mal-amados e os desumanos.
Soldados: não lutem pela escravidão, lutem pela liberdade. No sétimo capítulo de São Lucas está escrito: “O reino de Deus está dentro de homem”. Não de um só homem, nem de um grupo deles, mas de todos os homens: em ti!
Tu, o povo, tens o poder! O poder de criar máquinas, o poder de criar felicidade. Tu, o povo, tens o poder de tornar esta vida bela e livre, de fazer desta vida uma aventura maravilhosa!
Então em nome da democracia, usemos esse poder! Vamos todos nos unir e lutar por um mundo novo. Um mundo decente, que assegure a todos, a oportunidade de trabalho, que dê futuro à juventude e segurança à terceira idade.
Com tais promessas, os desalmados subiram ao poder, mas eles mentem, eles não cumprem as suas promessas. Eles nunca vão. Ditadores libertam-se, mas escravizam o povo. Agora, lutemos para cumprir essas promessas. Lutemos para libertar o mundo, abolir as fronteiras nacionais, pôr fim à ganância, ao ódio e à intolerância. Lutemos por um mundo de razão.
Um mundo no qual a ciência e o progresso conduzam todas as pessoas à felicidade. Soldados, em nome da democracia: vamos todos nos unir!”
Obs.: a transcrição do discurso foi feita em tradução livre, mas recomendamos fortemente que, se você chegou até aqui, leia este texto interpretado por Chaplin neste link: https://www.youtube.com/watch?v=zI0x2U-Dfv4&ab_channel=AnonAlagoas